domingo, 1 de setembro de 2013

Histórias de uma estudante em viagem #1

O Casamento

Esta foi talvez a primeira grande história que ouvi nas minhas mais que muitas viagens de autocarro.
Começou com uma conversa simples, entre duas pessoas conhecidas no autocarro, que falavam de um casamento que ia acontecer e para o qual tinham sido convidadas. Ao longo das semanas seguintes, mais e mais pessoas pareciam falar desse mesmo casamento, muitas vezes em simultâneo, mas não e conjunto: ora conversavam com a amiga ou o amigo no banco do lado, ora pelo telefone. O curioso mesmo era que estas conversas aconteciam um pouco por todo o autocarro, sem que os intervenientes reparassem nisso. Falavam de tudo e bem alto, pelo que era fácil de ouvir: criticavam o envio tardio dos convites, a dificuldade em encontrar roupa em saldos, o facto de os noivos substituído as prendas de casamento por "donativos" dos convidados para pagarem a lua-de-mel (um cruzeiro na Patagónia), as atitudes de "bridezilla" da noiva, chegando até a discordarem com o casamento.
Para mim, a história do casamento já se tinha tornado uma novela. A viagem de regresso a casa era já um acontecimento que ansiava todos os dias e representava o meu momento "novela mexicana" em que não pensava nas reacções químicas, nos cortes histológicos ou nas titulações. Nas vésperas da união, acabei ainda por ficar a saber a data, a hora e o local onde o casamento e as sessões fotográficas se realizariam (num jardim). Sentia-me praticamente da casa! Estava quase convidada, eu e todas as outras pessoas naquele autocarro, mas não fui ao casório... . Fiquei então sem saber quanto dinheiro tinha sido gasto nos vestidos das convidadas, se o copo d'água tinha tido croquetes do LIDL ou não, se a noiva parecia feita de cobertura de bolo e se começou aos gritos com a menina das flores por esta ter andando a jogar à bola antes da entrada na igreja ou se a lua-de-mel tinha tido lugar na Patagónia ou se os noivos tinham decidido ir antes para o Algarve por falta de donativos e excesso de cinzeiros e jarras de flores oferecidos pelos convidados.

Olhando para trás, talvez devesse ter tirado umas horinhas e vestido a minha melhor roupinha para me infiltrar no casamento: gostava de ter sido umas mosquinha para ver se os convidados que falavam no autocarro sem se conhecerem deram uns pelos outros no casamento. Pelo que falavam, devem, no mínimo, ter dado algumas gargalhadas juntos (sem o conhecimento dos noivos, claro!)!


Sem comentários: