Para avaliar o amor da vossa amante, lembrai-vos:
1º - De que, quanto mais prazer físico entrou na base do vosso amor, no
que noutros tempos determinou a intimidade, tanto mais ele está sujeito à
infidelidade. Isto aplica-se sobretudo aos amores cuja cristalização
foi favorecida pelo fogo da juventude, aos dezasseis anos.
2º - De que o amor de duas pessoas que amam não é quase nunca o mesmo. O
amor-paixão tem as suas fases durante as quais, e sucessivamente, um
dos dois ama mais que o outro. Muitas vezes a simples galanteria ou o
amor de vaidade responde ao amor-paixão, e é sobretudo a mulher que ama
com exaltação. Qualquer que seja o amor sentido por um dos dois amantes,
a partir do momento em que sente ciumes, exige do outro que preencha as
condições do amor-paixão; a vaidade simula nele todas as necessidades
de um coração terno.
Finalmente, nada aborrece tanto o amor-gosto como a existência do amor-paixão no outro ou outra.
Muitas vezes um homem de espírito, ao fazer a corte a uma mulher, não
consegue senão fazê-la pensar no amor e enternecer-lhe a alma. Ela
recebe bem este homem que lhe dá um tal prazer. Ele começa a alimentar
esperanças. Um belo dia essa mulher encontra o homem que lhe faz sentir o
que o outro lhe descreveu.
O texto não é meu. Trata-se de um excerto de "Do Amor", de Stendhal, que me chamou a atenção pela sua sinceridade e intemporalidade.
Gostaram??
Um beijo
Vânia
2 comentários:
Tendo em conta que o Stendhal era um mulherengo, não admira que procurasse desculpas para as relações não funcionarem. Ainda assim, é capaz de ter uma certa razão.
Sim, é verdade... Publiquei o texto porque achei interessante que a mentalidade dele, de um homem que viveu nos séculos XVIII e XIX, ainda hoje persista, porque afinal, mulherengos existiram ontem, existem hoje e vão existir amanhã, e que, apesar disso tudo, há coisas em que ele tinha razão. :D
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